Histórias fantásticas: de repente algo muito estranho aconteceu

Enquanto Maria pendurava as roupas no varal, bateu um vento tão forte que Maria quase foi embora com o vento e com um caracol, levado na ventania. Foi preciso se segurar com força na grade da janela, no que Maria sentiu as pernas flutuarem, e o corpo ficar paralelo ao chão. Já Clarisse saía do banho quando reparou numa folhinha verde saindo do pulso direito. Tirou com a pinça, tec!

Estas duas cenas fazem parte dos curtas-metragens “Quintal” e “Um ramo”, com histórias que enveredam para a narrativa fantástica, ou para o que não poderia acontecer em condições “normais” de pressão e temperatura, ao menos no planeta Terra. Bem, depois que a ventania passa, dona Maria retira as roupas sequinhas do varal e segue a vida. Clarisse busca um médico para descobrir o que fazer com os ramos e as folhas, que passam a crescer em outras partes do corpo. O estranhamento ao nos depararmos com essas histórias também sucede porque o que acontece não é tratado como impossível pelas personagens. Dentro dos universos ficcionais de cada filme, quase ser levada com o vento, atravessar um portal mágico ou ter raminhos de uma planta nos braços são acontecimentos possíveis e que movimentam a trama.

Há mais algumas questões que posso destacar em termos de estrutura narrativa sobre os dois filmes. Há verossimilhança, ou seja, coerência entre os diferentes elementos e situações que se desenrolam em torno dos acontecimentos estranhos. Assim, em “Quintal” e “Um ramo” é aceitável que um portal brilhante apareça na casa de Maria ou que plantas cresçam por debaixo da pele de Clarisse. É bastante curioso como ambos filmes misturam episódios fantásticos à um contexto realista. Ou seja, há coisas fantásticas e há coisas muito comuns, como lavar a roupa e tomar banho de chuveiro. Histórias fantásticas como essas também costumam provocar muitas interpretações, são polissêmicas. Afinal, que metáforas podem sugerir? Além disso, em “Quintal” e “Um ramo”, os eventos fantásticos se apresentam como pontos de virada da história, que levam a narrativa por caminhos inesperados e que capturam a curiosidade (e o espanto!) de quem assiste. De repente, algo muito estranho aconteceu! E agora?