AUDIOVISUAL, Aulas

Guia rápido de captura áudio: conceitos, técnicas e equipamentos

Alguns conceitos

Som estéreo:
Reprodução sonora em dois canais independentes, permitindo caracterizar o som em termos de origem, distância e direção sonora.

Som mono:
Reprodução sonora em um único canal, o que implica em perda de profundidade sonora.

Captação omnidirecional ou multidirecional
Embora privilegie a fonte sonora mais próxima, o som é captado de todas as direções.

Captação direcional ou cardioide
O som é captado pela frente do microfone, por isso é preciso apontar o microfone para fonte sonora.

Som direto
É o som captado pela câmera ou por um microfone externo, no momento da filmagem.

Trilha sonora
Conduz a história, dialoga com as imagens, conecta personagens e ações. Nem sempre uma cena triste funciona com uma música triste. O contraste entre trilha sonora e imagem pode produzir resultados interessantes. Sempre que a trilha sonora for de terceiros, uma autorização será necessária para utilizá-la. Atualmente, as plataformas de compartilhamento de filmes podem identificar e barrar as produções que esbarram em questões de direitos autorais. Uma dica é procurar em bancos de áudio (como os do Youtube) ou convidar uma pessoa para produzir uma trilha original.

Efeitos sonoros
Aproximam o filme do ambiente sonoro “real”, com efeitos de porta fechando, vento soprando, passos na calçada, etc. Os efeitos sonoros podem intensificar uma ação, criar suspense, conduzir uma cena e compor múltiplas camadas de som. Em produções de baixo custo, o efeito sonoro pode ser indispensável para compor uma cena para a qual não temos imagens “explícitas”, como é o caso da cena de ataque ao cachorro que não para de latir numa vizinhança no curta-metragem “O cão”.

Principais tipos de microfone

Microfone de captura OMNIDIRECIONAL / MULTIDIRECIONAL
Contexto de uso: captura de instrumentos musicais, entrevistas ou vídeos, quando é preciso esconder o microfone em cena (lapela), sempre que camadas de som ambiente são interessantes para a captura
Características: captação com mais ambiência e ruídos externos, mais resistente ao barulho de vento, plosivas menos evidentes (aquele som produzido pelas letras “P” e “T”), efeito de proximidade reduzido.
Tipos: lapela, microfone de mão.

Microfone de lapela. Captura omnidirecional.

Microfone de captura UNIDIRECIONAL / CARDIOIDE
Contexto de uso: diálogos, entrevistas, efeitos sonoros
Características: captação mais “limpa”, com menos ambiência, anula ou reduz ruídos externos, costuma facilitar o trabalho de pós-produção já que possui menos interferência externa, menos resistente ao barulho do vento (por isso, o uso de espuma ou “dead cat”), plosivas mais evidentes, efeito de proximidade aumentado.
Tipos: boom, shotgun, microfone de mão.

Microfone do tipo “shotgun”. Modelo Shotgun Rode VideoMic GO. Captura direcional ou cardióide.

Captura de som de baixo orçamento

Na impossibilidade de emprestar equipamentos de som ou em contextos de baixo orçamento, o gravador de áudio do telefone celular é um aliado. Em um episódio do podcast investigativo “O Ateliê”, por exemplo, conversas são captadas por um relógio de pulso do tipo “smart”.

Se for possível comprar um microfone que possa ser conectado ao telefone celular, melhor ainda, a captura terá ganhos de qualidade.

De todo modo é preciso tomar alguns cuidados:

  1. Separe um telefone celular que será usado em cena exclusivamente para gravação de áudio.
  2. Escolha, se possível, um aplicativo de gravação. Em geral, aplicativos permites ajustes que podem melhorar a qualidade do áudio. Faça alguns testes. Se o arquivo de som gerado for pesado, talvez você precise limpar um pouco a memória do telefone celular. Você vai encontrar dicas de aplicativos para captura de áudio em diversas postagens da internet, confira algumas: melhores apps (audiotext) , aplicativos para android (wondershare), apps para android e iphone (olhar digital), gravador de voz – guia para celular e PC.
  3. Durante a gravação, configure o celular para que não receba chamadas ou notificações. O ideal é mantê-lo no “modo avião” durante a captura.
  4. Localize a posição do microfone no aparelho e posicione o telefone celular em cena de modo estratégico, ou seja, é necessário considerar a proximidade da fonte sonora e possíveis ruídos externos.
  5. Teste a captura áudio, para ter certeza que a captura está funcionando.
  6. Quando começar a gravação, faça um barulho estridente, simulando uma “claquete”. A maioria dos softwares e aplicativos de edição permite a sincronização automática das camadas de som, mas a “claquete” pode facilitar o processo.

Qual a melhor técnica e equipamento para o meu filme?

BOOM (unidirecional), posicionado acima ou abaixo da cabeça
Contexto de uso: documentário; ficção
Como fazer: O microfone boom, com auxílio de uma haste, costuma ser estendido e posicionado acima da cena (pois não deve aparecer em quadro!), o que funciona para captura de sons naturais e autênticos. Se a posição do microfone acima da cabeça não funcionar no contexto de filmagem, experimente colocar abaixo.

Microfone “Bomm” em uso. Fonte: Luzcameracao.

BOOM (unidirecional), plantado em cena
Contexto de uso: documentário; ficção, locações externas
Como fazer: O microfone é posicionado em algum lugar da cena, próximo do elenco. É preciso camuflá-lo. É uma estratégia útil quando o elenco não tem muito movimento em cena e não é possível evitar que a equipe de som apareça em quadro no contexto de filmagem.

LAPELA (omnidirecional), no/a ator/atriz
Contexto de uso: reportagem, documentário, ambientes barulhentos, narração em off
Como fazer: Se o contexto de filmagem é barulhento (um bar ou um salão de beleza, por exemplo), um microfone de lapela será útil. Costuma ser fixado na roupa do/a ator/ atriz. Contudo, é preciso tomar cuidado com tecidos sintéticos, que produzem um som estático. O som captado pelo microfone de lapela tem semelhanças com o som captado em estúdio, por isso pode parecer claro e estéreo demais, por isso, na edição, é bacana acrescentar outras camadas de som ambiente. Para capturar um diálogo é possível usar dois microfones de lapela, e nesse caso, é preciso usar um divisor de entrada para conectá-los à câmera.

Fonte: luzcameracao.

LAPELA (omnidirecional), plantado em cena
Contexto de uso: quando é necessário camuflar o microfone da câmera
Como fazer: Pode ser útil para capturar um som isolado ou parte de um diálogo. Considere sempre o movimento em cena e a distância do elenco do microfone. Neste caso, não é preciso conectá-lo à câmera, pode ser gravado diretamente em gravador digital.

Fonte: luzcameracao.

Passo-a-passo para gravação

  1. Selecione a técnica e equipamento conforme o contexto de uso.
  2. Prepare seus equipamentos de áudio e vídeo.
  3. Monte a cena.
  4. Teste a captura áudio, para ter certeza que a captura está funcionando.
  5. Quando começar a gravação, faça um barulho estridente, simulando uma “claquete”. A maioria dos softwares e aplicativos de edição permite a sincronização automática das camadas de som, mas a “claquete” pode facilitar o processo.
  6. Depois de gravar a cena, considere a captura de uma camada de som ambiente.
  7. Considere também a captura de efeitos sonoros específicos (caso não pretenda usar efeitos sonoros de bancos de áudio).


Referências:
EVANS, Russel. Curtas extraordinários! Como filmar e compartilhar seus curtas na internet. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
MOLETTA, Alex. Criação de curta-metragem em vídeo digital. Uma proposta para produções de baixo custo. São Paulo: Summus Editorial, 2009.

Na internet, confira:
ABC, A prática de captação do som direto – parte 1
ABC, A prática de captação do som direto – parte 2
Magroove, Microfone Omnidirecional
Magroove, Microfone Cardióide
Luzcameracao, como usar microfone de lapela
Luzcameracao, como operar microfone boom
Audiovizuando, tipos de microfone (youtube)


FRANÇA, Ana Claudia C. V. de. Guia rápido de captura áudio: conceitos, técnicas e equipamentos. Blog Plástico Bolha, 2023. Acesso em: . Disponível em: <https://anafranca.com.br/guia-rapido-de-captura-audio-conceitos-tecnicas-e-equipamentos/>.


Publicado por Ana França

Sou professora no Departamento Acadêmico de Desenho Industrial (DADIN) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), no campo de Narrativas Visuais e Produção da Imagem. No doutorado pesquisei sobre mulheres no circuito de cinema em Curitiba, entre 1976 e 1989 (PPGTE/UTFPR). Dedico-me a projetos em narrativas visuais e investigações sobre mulheres no audiovisual, nos cruzamentos entre história, narrativa, literatura, texto e imagem.