clube de leitura

Ciclo 01 do Brisa

1. E SE AS COISAS ENCOLHESSEM?

“Eu estava triste porque os objetos estavam diminuindo. Foi horrível quando me dei conta. Sempre a mesma coisa: chegava cansada, tomava banho, preparava um sanduíche, tentava escrever.”

JULIA CODO

“Quando as coisas ficaram pequenas” é um conto de Julia Codo, do livro “Você não vai dizer nada” (2021). O conto se estrutura numa carta de uma escritora para a sua amiga Silvia. A protagonista relata com certa naturalidade e alguma frustração um fenômeno doméstico estranho: o encolhimento do sofá, da televisão, do abajur, da penteadeira, da cama. O fogão, por exemplo, diminuíra a ponto de as quatro bocas serem acesas com um único fósforo. Para terminar de escrever um livro sem se distrair com coisas que mais parecem pertencer à uma casa de bonecas, a protagonista decide ir para a casa de campo da família. Quem sabe tudo não fosse questão de deslocamento. Afinal, seriam as coisas ou a vida que vinha encolhendo?  

“Quando as coisas ficaram pequenas” é o conto do dia 10/07/2021 do Brisa – Clube de leitura de contos e outros textos breves.

2. UMA CASA TOMADA

Irene e o irmão habitam uma ampla e silenciosa casa que fora dos seus bisavós, em Buenos Aires. O tempo em que essa história acontece não é preciso, mas o narrador nos conta que desde 1939 nada de interessante da literatura francesa chegara na capital argentina. Conhecemos a casa e seus únicos habitantes também pelo ruído das agulhas de tricô de Irene, pela poeira por toda parte, pelo cheiro de naftalina das gavetas, pelo folhear de uma coleção de selos. Um dia, enquanto a água para o mate fervia, uma parte da casa fora tomada, levando dos seus donos alguns cômodos, um cachimbo de zimbro e chinelas de inverno. O que aconteceria depois?

“A Casa Tomada” é o conto do dia 17/07/2021 do Brisa – Clube de leitura de contos e outros textos breves.

3. A LAVANDERIA ANGEL’S

A lavanderia Angel’s fica na Rua 4, Novo México. Possui espelhos, uma máquina de coca-cola quebrada e cadeiras do tipo aeroporto, de plástico amarelo. A Angel’s é adesivada com orientações de uso, “não sobrecarregue as máquinas”, mas também orações, “concedei-me, senhor, serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar”, e lemas dos Alcoólicos Anônimos, “não pense e não beba”. Se noivas adolescentes levam para lavar na Angel’s toalhas, baby-dolls e calcinhas com os dias da semana estampados, mães viajantes carregam os tambores com colchonetes e cadeirinhas de bebês. É nesse cenário que a narradora Lucia, que atravessa a cidade para lavar as roupas, encontra Tony, um apache que costuma beber Jim Beam enquanto espera a lavagem ficar pronta. Íntimos desconhecidos, Lucia e Tony cruzam também com a sra. Armitage e o dono da lavanderia, Angel, quem espalha as mensagens do AA em letras fosforescentes.

“Lavandeira Angel’s” é o conto do dia 24/07/2021 do Brisa – Clube de leitura de contos e outros textos breves.

4. UMA VIAGEM SEM DESTINO

O conto “Hoy temprano” nos leva para uma viagem de carro por uma rodovia argentina. Embarcamos primeiro em um Peugeot 404. Depois seguimos com um Renault 12 e, mais tarde, com um Falcon Rural. O narrador nos conta sobre “longas esperas no meio do caminho”, o sentimento de que “nunca vamos chegar” ou de que “o tempo todo parece que estamos chegando”. Nessa viagem sem destino, em que pessoas e lugares vão mudando pelo caminho, também se passa pelo que ficou, mas não existe mais. 

“Hoy temprano” é o conto do dia 07/08/2021 do Brisa – Clube de leitura de contos e outros textos breves.

5. UM BANHO DE ÁGUA FRIA

O conto “Água gelada”, de Vera Giaconi, narra eventos cotidianos na vida de Amanda e suas duas filhas. Trabalho, escola, tranças no cabelo, notícias na televisão, o preparo da janta, um banho no final do dia. Parece tudo comum e rotineiro, mas há algo de estranho no modo como Amanda e as filhas dividem a casa, entre a intimidade inescapável e a distância absoluta.  

“Água Gelada” é o conto do dia 13/08/2021 do Brisa – Clube de leitura de contos e outros textos breves.

6. ATENÇÃO, VIAJANTES!

“Correntes”, de Olga Tokarczuk, é um romance fragmentário, feito de um conjunto amplo de capítulos curtos, alguns com apenas três ou quatro linhas. Pode-se ler o livro por muitos caminhos, com desvios, atalhos ou múltiplas combinações, como se o sumário fosse uma estação de trem com muitos destinos possíveis, e bilhete livre para idas, vindas e voltas.

Selecionei para o Brisa – esse clube de leitura que é de “contos”, mas também de “outros textos breves” – os capítulos: “A síndrome”, “O gabinete de curiosidades”, “Sete anos de viagem”, “Adivinhação à luz de Cioran”, “Benedictus, qui venit”, “Panopticum”, “Em todo e nenhum lugar”, “A viagem às próprias raízes”, “Cosméticos para viagem”, “La mano di Giovanni Battista”, “O original e a cópia”, “O trem dos covardes”, “O apartamento abandonado”, “Guias”, “Wikipedia”, “O tempo e o lugar certo”, “Manual”, “Faxinando o mapa”, “Um quarto de hora muito longo”, “A característica de um peregrino”, “Falar! Falar!”, “A mobilidade é uma realidade”, “Saco de enjoo” e “Estou”.Talvez, o que você precise saber sobre a narradora antes de embarcar nesses fragmentos de viagem é que sua “energia vem do movimento – do chacoalhar dos ônibus, do barulho dos aviões, do balançar das balsas e dos trens”.

Alguns dos capítulos de “Correntes” são os textos do dia 21/08/2021 do Brisa – Clube de leitura de contos e outros textos breves.

7. UM ZUMBI ATRÁS DE VOCÊ

No ensaio “Nosso apocalipse zumbi”, Stephanie Borges articula conexões entre a popularidade dos zumbis das narrativas ficcionais com o contexto político e social do momento. Como explica a autora, “a encarnação radical da distinção entre ‘nós’ e ‘eles’ que está na base das narrativas de zumbis tem ecos nada desprezíveis na retórica bolsonarista, que mobiliza todo tipo de ressentimento na construção de inimigos”. Mas, afinal, quem são os zumbis? Qual a história dessa figura de origem haitiana? E como histórias de ficção podem apoiar a imaginação de outros futuros?

“Nosso apocalipse zumbi” é o ensaio do dia 28/08/2021 do Brisa – Clube de leitura de contos e outros textos breves.

8. UMA VELHA SENHORA

Era só mais uma noite que a velha senhora passava no apartamento da filha. Mas, um segredo compartilhado com o neto Fernando e a vista da janela fizeram daquela madrugada um pouco diferente.

“Formigas de apartamento” é o conto do dia 04/09/2021 do Brisa – Clube de leitura de contos e outros textos breves.

Para participar, inscreva-se por e-mail.


FRANÇA, Ana Claudia C. V. de. Ciclo 01 do Brisa. Blog Plástico Bolha, 2021. Acesso em: . Disponível em: <https://anafranca.com.br/ciclo-01-do-brisa/>.


Publicado por Ana França

Sou professora no Departamento Acadêmico de Desenho Industrial (DADIN) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), no campo de Narrativas Visuais e Produção da Imagem. No doutorado pesquisei sobre mulheres no circuito de cinema em Curitiba, entre 1976 e 1989 (PPGTE/UTFPR). Dedico-me a projetos em narrativas visuais e investigações sobre mulheres no audiovisual, nos cruzamentos entre história, narrativa, literatura, texto e imagem.