Aulas

Uma barriga, uma abóbora

“A ópera Mouffe” é um curta-metragem de 1958, escrito e dirigido por Agnès Varda. A apresentação do filme nos informa: é uma ópera de cinema, mas também um caderno de notas de mulher grávida – a própria Agnès -, que nos conta sobre a gestação de um bebê, uma rua de Paris, os ciclos e as texturas da vida urbana.

Logo na sequência inicial do filme há um “corte por associação visual” que nos leva de uma barriga grávida para uma abóbora enorme. As imagens apresentam aproximações de forma, tamanho e cor. A abóbora é então cortada ao meio, onde se vê um emaranhado de fibras e sementes. Esta justaposição – barriga grávida e abóbora cortada – me faz pensar, parir é um acontecimento intenso, selvagem até, estica a pele, transforma o corpo, coloca uma pessoa no mundo, com grito, sangue e lágrima. Mas essa é também a maneira poética do filme conectar diferentes espaços, personagens e elementos: a mulher grávida e nua e o feirante da Rua Mouffetard, os poros da pele humana e as rugas da casca de abóbora, o umbigo e o pedúnculo, a vida que cresce e as sementes da moranga que, quem sabe, podem um dia germinar.

Para saber mais:
SIJLL, Jennifer Van. Narrativa cinematográfica. Contando histórias com imagens em movimento. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017.


FRANÇA, Ana Claudia C. V. de. Uma barriga, uma abóbora. Blog Plástico Bolha, 2021. Acesso em: . Disponível em: <https://anafranca.com.br/uma-barriga-uma-abobora/>.


Publicado por Ana França

Sou professora no Departamento Acadêmico de Desenho Industrial (DADIN) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), no campo de Narrativas Visuais e Produção da Imagem. No doutorado pesquisei sobre mulheres no circuito de cinema em Curitiba, entre 1976 e 1989 (PPGTE/UTFPR). Dedico-me a projetos em narrativas visuais e investigações sobre mulheres no audiovisual, nos cruzamentos entre história, narrativa, literatura, texto e imagem.