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Problema de pesquisa, o começo do quebra-cabeça

Não existe pesquisa sem problema de pesquisa. Afinal, toda pesquisa é norteada por uma questão que se deseja responder. No texto, nem sempre a questão é formulada em forma de pergunta, mas se apresenta de algum modo. É comum que se desenrole uma contextualização sobre um tema para então formular uma pergunta sobre algo ainda sem resposta. O problema de pesquisa deve traduzir uma inquietação, ao mesmo tempo que localiza o contexto da investigação.

É importante que a pergunta de pesquisa seja específica. Uma questão ampla ou vaga não pode ser respondida em um trabalho de conclusão de curso. Considere também uma pergunta para a qual a resposta não seja apenas “sim” ou “não”. E avalie, será que você já não tem a resposta de antemão?

Perguntar, por exemplo, “como foi a participação de mulheres na produção cinematográfica de Curitiba na década de 1970?” é mais interessante do que  perguntar “houve mulheres na produção cinematográfica de Curitina na década de 1970?”. Para a segunda pergunta, só é possível responder “sim” ou “não”, enquanto que a primeira permite outros desdobramentos. Repare também em como o contexto temporal e geográfico está demarcado na primeira versão da questão, temos aí uma pergunta específica. 

A pergunta de pesquisa é fundamental porque norteia a construção do objetivo geral, dos objetivos específicos e dos procedimentos metodológicos, além de orientar os temas nos quais você precisa se debruçar para respondê-la. Uma pesquisa que parte da pergunta “como foi a participação de mulheres na produção cinematográfica de Curitiba na década de 1970?”, por exemplo, vai precisar considerar campos de estudo como história das mulheres, história do cinema em Curitiba, mulheres no cinema e o contexto cultural dos anos 1970.  

Mas como descobrimos um problema de pesquisa? 

A formulação de um problema de pesquisa parte do interesse pessoal e coletivo sobre um determinado tema. Por um lado a motivação para o trabalho de conclusão de curso é sustentada pelo interesse e experiência de quem pesquisa. Por outro lado é preciso localizar interesses mais amplos, a instituição onde a pesquisa se desenvolve, a trajetória de quem orienta, o momento social em que a pesquisa é desenvolvida. Pesquisar é também uma negociação! E construir um bom problema de pesquisa é um processo, muitas vezes de ir e vir, até se chegar numa formulação concisa e coerente. 


FRANÇA, Ana Claudia C. V. de. Problema de pesquisa, o começo do quebra-cabeça. Blog Plástico Bolha, 2021. Acesso em: . Disponível em: <https://anafranca.com.br/problema-de-pesquisa-o-comeco-do-quebra-cabeca/>.


Publicado por Ana França

Sou professora no Departamento Acadêmico de Desenho Industrial (DADIN) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), no campo de Narrativas Visuais e Produção da Imagem. No doutorado pesquisei sobre mulheres no circuito de cinema em Curitiba, entre 1976 e 1989 (PPGTE/UTFPR). Dedico-me a projetos em narrativas visuais e investigações sobre mulheres no audiovisual, nos cruzamentos entre história, narrativa, literatura, texto e imagem.