No cinema e em outras artes, o tempo é uma das unidades dramáticas mais importantes. A fusão longa é um recurso de edição que combina duas imagens, fazendo lenta a passagem de uma para outra. Este recurso pode ser um modo eficiente e poético para indicar que o tempo na história passou. Assim, nos filmes, muitos anos se passam em segundos, ainda que devagarinho, em termos de edição. Segundo Jennifer Van Sijll (em “Narrativas cinematográficas – contando histórias com imagens em movimento”, pp. 162-163), “fusões longas suavizam o corte entre as imagens, fazendo o processo de envelhecimento e a passagem do tempo parecerem coerentes e naturais”. Mas coerência e suavização dependem também de outros detalhes de composição.
No curta-metragem “A Cidade” (2012, direção de Liliana Sulzbach), por exemplo, a fusão longa entrelaça fotografias antigas e imagens recentes, conectando o passado e o presente de personagens como João Saldanha. Repare também como a transição lenta de uma imagem para outra produz uma série de outras imagens pelo caminho, que sobrepõe os elementos de ambas. Em “A Cidade”, outro detalhe importante é que, tanto na fotografia do passado quanto na imagem do presente, o rosto e o corpo de João ocupam a mesma posição e proporção na composição do quadro, o que intensifica a associação entre as duas imagens, borrando as fronteiras do tempo. São os anos que passam num piscar de olhos. Já reparou como a vida passa devagar, mas também rápido demais?
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FRANÇA, Ana Claudia C. V. de. Fusão longa: duas imagens e o tempo passando lentamente. Blog Plástico Bolha, 2022. Acesso em: . Disponível em: <https://anafranca.com.br/fusao-longa-duas-imagens-e-o-tempo-passando-lentamente/>.