AUDIOVISUAL, Aulas

Elementos da linguagem audiovisual

São 4 categorias de elementos da linguagem audiovisual:
1. Plano/ enquadramento
2. Ângulo
3. Movimento de câmera
4. Movimento da objetiva.

Seguem a descrição e exemplos de alguns desses elementos.

1. Plano/ enquadramento

Plano Geral (PG)

O Plano Geral é um plano bem aberto que mostra de modo amplo o local em que acontece uma ação. Tem como função apresentar ou descrever a cena: se é dia ou noite, se é campo ou cidade, se é contemporâneo ou retrata outra época. Costuma-se combinar este plano com movimentos de câmera que terminam por destacar um lugar, uma casa, um edifício ou uma rua onde acontece a história. Este tipo de plano pode ser chamado de Grande Plano Geral (GPG) quando a amplitude do que se deseja mostrar é muito grande, ao ponto de pessoas parecerem muito pequenas ou pouco visíveis.


Plano geral no início de “A Cidade” (Liliana Sulzbach, 2012).


Plano geral do início de “Estátua” (Gabriela Amaral Almeida, 2014), apresentando personagens e o lugar onde a história acontece.

Plano Médio (PM)

O Plano Médio (PM) é um enquadramento comum na televisão, enfatiza o que a pessoa fala ou canta, ou o modo como ela observa ou reage. Este plano inclui o tronco da personagem (podendo cortar um pouco mais acima ou mais abaixo da cintura), com boa visibilidade para gestos, figurino, cenário ou objetos. Se o ângulo for frontal, este enquadramento reproduz a visão de quem está num bate-papo e com isso podemos sentir proximidade com a personagem.


Plano médio de Yanco, em “Tio Yanco” (Agnès Varda, 1967).


Plano médio de “Estátua” (Gabriela Amaral Almeida, 2014).

Plano Americano (PAM)

O Plano Americano (PAM) produz um enquadramento em torno dos joelhos e explora o movimento da pessoa enquanto ela fala ou se movimenta. Este enquadramento valoriza o foco de ação ao mesmo tempo em que apresenta aspectos do ambiente. Este plano tem este nome porque é recorrente nos filmes de faroeste, que apresentam cenas de duelo onde é preciso mostrar os personagens com suas pistolas prestes a sair do coldre.


Plano médio para mostrar o senhor que joga bocha em “A Cidade” (Liliana Sulzbach, 2012).


Plano americano de “Estátua” (Gabriela Amaral Almeida, 2014).

Plano Conjunto (PC)

Plano Conjunto (PC) é o enquadramento que define em menor proporção o ambiente onde ocorre a ação e os/as personagens e elementos de cena que fazem parte da história.


Plano conjunto para apresentar personagens de “A Cidade” (Liliana Sulzbach, 2012).


Plano conjunto de “Estátua” (Gabriela Amaral Almeida, 2014).

Close (C)

O Close (C) destaca a reação, estado emocional ou o mundo interno de um/a personagem. Esse enquadramento deve ser utilizado com precisão, pois é bastante expressivo. Uma derivação desse plano é o BIG CLOSE UP. Trata-se de um close exagerado, mostrando parte do rosto. O BIG CLOSE UP foi criado para reproduzir na tela pequena da TV o impacto causado pelo CLOSE na tela grande do cinema.


Big close up em “Estátua” (Gabriela Amaral Almeida, 2014).


Close em Loin Du 16 (Walter Salles e Daniela Thomas, 2006).

Plano Detalhe (PD)

Este enquadramento mostra um detalhe importante que queremos enfatizar. Pode criar a sensação de cumplicidade com quem assiste, pois faz sentir que acessamos um ponto de vista ou o universo íntimo da personagem. Pode também revelar algo que a personagem desconhece (uma faca manchada de sangue na mesa da sala ou uma carta que cai do bolso do casaco). Este plano é muito usado para caracterizar um espaço, mostrando objetos que fazem parte de uma sala de estar, por exemplo. Pode também ser usado para mostrar detalhes do rosto ou do corpo de uma personagem.


Plano detalhe de “Estátua” (Gabriela Amaral Almeida, 2014).


Plano detalhe para apresentar uma das personagens de “A Cidade” (Liliana Sulzbach, 2012).

Plano e contra-plano

É muito utilizado em diálogos, mas também estabelece outros tipos de relação (acenos, gestos, olhares, etc.). O contra-plano busca enquadrar personagens para conferir a sensação de que estão próximos, conversando ou fazendo algum tipo de contato. Neste tipo de enquadramento, a câmera é mantida num eixo de 180 graus, estabelecendo relação entre personagens e ações.

Plano e contra-plano em “Estátua” (Gabriela Amaral Almeida, 2014).

Plano e contra-plano em Loin Du 16 (Walter Salles e Daniela Thomas, 2006).

2. Ângulo

Plongée

Plongée em francês significa “mergulho”. Neste ângulo, a câmera filma a personagem ou o assunto de cima para baixo, produzindo um efeito de diminuição, inferiorização, dominação ou opressão. Também pode sugerir uma intrusão voyeurista em uma cena. 


Plongée em “Vinil Verde” (Kleber Mendonça Filho, 2015).


Polngée em “Nada” (Gabriel Martins, 2017).

Contra-plongée

Ao contrário do Plongée, a câmera filma a personagem ou o assunto de baixo para cima, gerando uma sensação de grandiosidade, superioridade e monumentalidade. Este ângulo pode indicar um elemento ou personagem poderoso/a, que ganha autoridade diante de nós.


Contra-plongée em “A cidade dos executivos” (Irmãos Wagner – Ingrid, Elizabeth, Rosane e Muti Wagner, 1978).


Contra-plongée em “Vinil Verde” (Kleber Mendonça Filho, 2015).

3. Movimento de câmera

Travelling

Travelling é um termo em inglês que significa viagem, caminho. Neste movimento, a câmera sai do seu lugar fixo e percorre um caminho, acompanhando ação, cenário ou personagem. Geralmente a câmera fica num carrinho e este, num trilho. Quando os personagens se movem de um local para outro, a câmera no carrinho os acompanha. Este efeito causa uma sensação de tensão e suspense, que reforça a identificação do/a espectador/a com o personagem em cena. Também pode servir para apresentar o lugar onde se passa a história.


Travelling para apresentar o lugar onde a história acontece em “Nada” (Gabriel Martins, 2017).


Travelling para uma cena de suspense em Trabalhar Cansa (Juliana Rojas e Marco Dutra, 2011).

Chicote

Chicote é como se chama qualquer movimento panorâmico rápido que torna as imagens intermediárias borradas pela velocidade do movimento de câmera.

Chicote em “Nada” (Gabriel Martins, 2017).

Chicote em “A menina do algodão” (Daniel Bandeira e Kleber Mendonça Filho, 2003).

Panorâmica horizontal

Em geral, a panorâmica horizontal é usada para descrever um ambiente (função descritiva). No eixo horizontal pode mostrar um ambiente de forma mais eficiente que um plano fixo, que precisaria ser demasiadamente aberto para obter o mesmo ângulo de visão horizontal. Desse modo, o movimento panorâmico conduz o olhar de quem assiste. Também pode ser utilizada para acompanhar o movimento de uma personagem ou veículo (função de acompanhamento), para estabelecer a relação geográfica entre dois personagens ou objetos (função geográfica ou de relação), para mostrar a visão de um personagem (função de ponto de vista), dentre tantas outras possibilidades.

Panorâmica horizontal em “Tio Yanco” (Agnès Varda, 1967).

Panorâmica horizontal em “Prazer Amoroso no Irã” (Agnès Varda, 1976).

Panorâmica vertical

Trabalhando no eixo vertical, a panorâmica vertical com frequência apresenta um personagem ou lugar, destacando detalhes que se revelam no decorrer do movimento.
Também pode ser definida como:
TILT DOWN – A câmera se inclina para baixo em uma linha vertical.
TILT UP – A câmera se inclina para cima em uma linha vertical.


Tilt up em “Encanto Desencanto Encanto” (Ulisses Arthur, 2020).


Tilt up em “Estátua” (Gabriela Amaral Almeida, 2014).

4. Movimento da objetiva

Zoom in / Zoom out

Com o zoom in ou zoom out a imagem se aproxima ou se distancia, de forma lenta ou acelerada, do assunto da cena. Contudo, não se trata de um movimento de câmera, pois a única coisa que se move é a lente. O efeito serve para chamar a atenção para um objeto na paisagem ou para abrir a amplitude de uma cena. Portanto, este movimento da objetiva pode ser tanto de aproximação, quanto de distanciamento.

Zoom in em “Fantasmas” (André Novais de Oliveira, 2010).

Zoom out + panorâmica horizontal em “Tio Yanco” (Agnès Varda, 1967).


FRANÇA, Ana Claudia C. V. de. Elementos da linguagem audiovisual. Blog Plástico Bolha, 2023. Acesso em: . Disponível em: <https://anafranca.com.br/elementos-da-linguagem-audiovisual/>.


Publicado por Ana França

Sou professora no Departamento Acadêmico de Desenho Industrial (DADIN) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), no campo de Narrativas Visuais e Produção da Imagem. No doutorado pesquisei sobre mulheres no circuito de cinema em Curitiba, entre 1976 e 1989 (PPGTE/UTFPR). Dedico-me a projetos em narrativas visuais e investigações sobre mulheres no audiovisual, nos cruzamentos entre história, narrativa, literatura, texto e imagem.