“Travessia” é um curta-metragem que mobiliza fotografias de família destacando as possibilidades narrativas dessas imagens. O filme começa com uma fotografia preto e branca que vai sendo apresentada por partes. Na imagem, uma mulher negra segura um bebê branco. Tem um tecido amarrado na cabeça, usa saia e blusa estampadas de poá, chinelos de dedo e bobs no cabelo. No verso da fotografia, além de manchas do tempo, está escrito em caneta azul: “Tarcisinho e sua babá. Dias D’Ávila, 15-11-1963.” Safira Moreira, diretora de “Travessia”, conta que encontrou esta imagem garimpando fotografias de mulheres negras em feiras de antiguidade do Rio de Janeiro. Mas esta não é a única fotografia de família do filme. Além da babá de Tarcisinho, na sequência seguinte uma jovem mostra diversas fotografias de famílias negras, enquanto uma senhora narra a sua relação com esse tipo de imagem. Depois, o filme é tomado por uma sequência musical de pessoas negras que ocupam enquadramentos variados e afetivos. “Travessia” apresenta alguns deslocamentos no espaço, mas também no tempo, movimentos que podem recolocar as pessoas e as imagens, condensando passado, presente e a urgência de outros futuros. A babá de Tarcisinho, afinal, é mais do que a babá de Tarcisinho. É a antepassada de muitas Safiras.
Para citar esse artigo como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
FRANÇA, Ana Claudia C. V. de. O passado e o futuro nas imagens. Blog Plástico Bolha, 2021. Acesso em: . Disponível em: <https://anafranca.com.br/o-passado-e-o-futuro-nas-imagens/>.