FOTOGRAFIA

Para olhar melhor

O FOTÓGRAFO
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo. […]

manoel de barros.

No livro “Dicas de Fotografia”, Claudia Regina explica o seguinte: “Entender a parte técnica é importante. Saber pós-processar suas imagens em um mundo digital também. Mas a composição é um dos principais fatores para sua foto se destacar na multidão.” Por isso, estudar composição e prestar atenção em como olhamos para o mundo, mesmo quando não estamos fotografando, é tão importante quanto dominar as técnicas de câmera e de iluminação.

Claudia Regina sugere algumas ótimas perguntas para se fazer antes de apertar o botão: “Por que decidi fotografar isso?”, “O que chamou a minha atenção nesta situação?”, “Quais são as coisas importantes desta cena?” e “O que não é importante?”.

O modo como compomos uma fotografia é também o modo como sugerimos que outra pessoa percorra a cena registrada. Uma fotografia pode ser um modo de expressar uma ideia, uma temática, uma crítica, uma poesia, uma metáfora visual. Destacamos alguns elementos, deixamos outros de fora. Nos limites da fotografia, não é possível mostrar tudo, mas é possível dar relevo para formas, cores, gestos, expressões. O que, afinal, você gostaria de fotografar? E por quê?

Ver, assim como fotografar, não é um gesto automático. É um aprendizado, que vai se modificando com a prática e com as experiências da vida. Para produzir fotografias interessantes é preciso desnaturalizar o modo como olhamos para o mundo. É preciso cultivar a atenção e a curiosidade, construindo tanto um olhar poético, quanto um senso crítico sobre o mundo das imagens.

Janela da Alma é um excelente filme para pensar sobre como vemos o mundo. O documentário apresenta muitas perspectivas sobre o olhar, construindo uma narrativa complexa sobre o que é ver e o que é produzir imagens.

Exercícios para exercitar o olhar

Pareidolia

Pareidolia é o fenômeno visual de enxergar formas humanas e animais em certas composições na natureza, nas cidades, nos espaços domésticos. Por exemplo, a tomada que de um certo jeito parece mais parece um rosto sorridente, a nuvem em forma de peixe ou as rachaduras de um muro que lembram dois olhos e um nariz. Espie como a pareidolia pode aparecer de muitos modos e em muitos lugares aqui.

Polaroides (in)visíveis

Polaroides (in)visíveis é o nome de um projeto artístico do fotógrafo Tom Lisboa. A ideia é descrever um aspecto fotográfico de um lugar, ao invés de fotografá-lo, o que nos faz olhar para o espaço (ou até mesmo para uma fotografia) de um modo distinto. O projeto de Tom Lisboa nos lembra que nem sempre olhamos de fato para uma fotografia de outra pessoa. E nem sempre reparamos de fato no que estamos fotografando. Os polaroides (in)visíveis nos convidam a prestar atenção e olhar de um modo diferente para os lugares que estamos ou conhecemos. Ainda que não esteja fotografando, o que você vê de interessante quando caminha por aí? Conheça o projeto de Tom Lisboa aqui.

Elementos de composição

Claudia Regina explica que são 7 os elementos que fundamentam as artes visuais: 1. Linha; 2. Textura; 3. Cor; 4. Luz e sombra; 5. Volume; 6. Forma; 7. Espaço. Faça composições destacando cada um desses elementos para experimentar a possibilidade expressiva de cada um. Antes das aulas de iluminação, comece com linha, textura e cor.


FRANÇA, Ana Claudia C. V. de. Para olhar melhor. Blog Plástico Bolha, 2022. Acesso em: . Disponível em: <https://anafranca.com.br/para-olhar-melhor/>.


Publicado por Ana França

Sou professora no Departamento Acadêmico de Desenho Industrial (DADIN) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), no campo de Narrativas Visuais e Produção da Imagem. No doutorado pesquisei sobre mulheres no circuito de cinema em Curitiba, entre 1976 e 1989 (PPGTE/UTFPR). Dedico-me a projetos em narrativas visuais e investigações sobre mulheres no audiovisual, nos cruzamentos entre história, narrativa, literatura, texto e imagem.